Larissa Mota, CEO do Grupo Exímia*
Nos últimos anos, o mundo corporativo tem passado por transformações profundas, impulsionadas pela automação, pela digitalização e pelas novas dinâmicas nas relações de trabalho. De acordo com um relatório da McKinsey & Company, mais de 50% das atividades hoje desempenhadas por seres humanos poderão ser automatizadas até 2030. Isso reforça uma mudança de paradigma: a vantagem competitiva das organizações dependerá cada vez menos da execução operacional e cada vez mais da criatividade, do bem-estar e da capacidade de adaptação das pessoas. Nesse cenário, torna-se urgente repensar o papel da liderança, não apenas sob a ótica da estratégia e dos resultados, mas, sobretudo, da gestão humana e da cultura organizacional. O paradoxo é evidente: em pleno avanço tecnológico, muitos líderes ainda mantêm posturas do século passado.
O principal problema é que uma parte significativa da alta gestão continua presa a modelos hierárquicos, centralizadores e orientados ao controle. Essa abordagem limita a inovação, dificulta a escuta e desconsidera um dos principais desafios das organizações hoje: o cuidado verdadeiro com as pessoas. A resistência à mudança fica evidente quando confrontada com dados recentes. Uma pesquisa do LinkedIn mostrou que 49% dos brasileiros já pediram demissão voluntária por falta de equilíbrio emocional. Mesmo assim, em diversas empresas, a saúde mental continua sendo tratada como um benefício complementar, e não como parte essencial da estratégia organizacional.
Líderes que ignoram esse cenário estão cada vez mais distantes das expectativas dos talentos contemporâneos, especialmente das novas gerações, que valorizam propósito, autonomia e bem-estar emocional. Ao negligenciar que produtividade e inovação nascem de ambientes seguros, estimulantes e empáticos, muitos gestores colocam em risco a cultura organizacional e os resultados de longo prazo. A dificuldade em lidar com essas questões não revela apenas falta de sensibilidade, mas também uma falha crítica de visão estratégica.
O futuro do trabalho já chegou, e ele exige líderes capazes de navegar no caos, inspirar confiança e criar ambientes que favoreçam a criatividade e o equilíbrio. A liderança deve abandonar o modelo de comando e controle, adotando uma abordagem centrada no desenvolvimento humano, com políticas de saúde mental, inovação constante, escuta ativa e reconhecimento das individualidades. Cuidar das pessoas e inovar deixou de ser um "plus" e tornou-se uma necessidade estratégica. A automação redefine a produtividade, mas as pessoas continuam sendo o verdadeiro motor das organizações. Só aquelas que entenderem essa verdade essencial prosperarão. Ainda há tempo para mudar, mas a pergunta é: quantos líderes estão realmente prontos para isso?
*Larissa Mota é advogada, especializada em Relações Trabalhistas e Sindicais pelo Centro Universitário Braz Cubas. Em 2005, fundou a Exímia, BPO especializada em terceirização de folhas de pagamento e gestão de benefícios.