Blog Image
23/7/2025

A promessa do eSocial esbarrou na resistência das empresas à mudança

Larissa Mota, CEO do Grupo Exímia*

Lançado oficialmente em 2018, o eSocial foi concebido como uma ferramenta de transformação para a gestão de obrigações trabalhistas no Brasil. Ao unificar mais de 15 obrigações acessórias em um único ambiente digital, o sistema pretendia reduzir a burocracia, simplificar processos e aumentar a transparência nas relações de trabalho. Seis anos depois, embora tenha havido avanços, é evidente que grande parte do seu potencial segue inexplorado. Segundo levantamento da KPMG, mais de 40% das empresas ainda enfrentam dificuldades na integração de seus sistemas com a plataforma, um número que revela não apenas entraves técnicos, mas, sobretudo, uma resistência cultural à modernização.

A promessa de desburocratização ficou ofuscada pela forma como muitas empresas conduziram a implantação do eSocial. Ao enxergarem o sistema apenas como uma obrigação a ser cumprida, ignoraram a oportunidade de rever fluxos internos e capacitar adequadamente seus profissionais de Departamento Pessoal. Aprendeu-se, sim, a transmitir eventos no prazo, mas pouco se evoluiu em termos de gestão preventiva. Assim, as informações continuam sendo lançadas sem consistência e a baixa qualidade dos dados compromete tanto o cumprimento das obrigações quanto a saúde fiscal da organização. Em vez de uma cultura de conformidade, firmou-se uma lógica de correção reativa, a qual, no ambiente digital do eSocial, é penalizada com mais rigor e agilidade.

O problema se agrava porque o eSocial exige muito mais do que um simples envio de dados; ele pressupõe alinhamento entre áreas, processos bem definidos e profissionais preparados para lidar com regras complexas. No entanto, a qualificação da equipe de DP ainda é subestimada em muitas companhias. A automatização do sistema não substitui o olhar crítico e técnico sobre os dados — pelo contrário, torna-o ainda mais necessário. Ignorar esse aspecto tem custado caro: autuações automáticas, passivos trabalhistas e dificuldade em sustentar fiscalizações são sintomas comuns de uma abordagem negligente.

É preciso abandonar a ideia de que o eSocial é apenas um sistema do governo. Ele deve ser entendido como uma ferramenta estratégica para as empresas, capaz de oferecer uma visão mais precisa da folha de pagamento, evitar litígios e apoiar decisões baseadas em dados. Para isso, é urgente investir na integração efetiva entre sistemas internos, assim como na valorização dos profissionais de RH e DP, que são peças-chave nesse processo.

Embora a promessa do eSocial ainda não tenha sido plenamente cumprida, isso não ocorre por falha do sistema, mas pela resistência das empresas em tratar a conformidade como prioridade. Somente por meio de uma mudança cultural profunda, que valorize a qualidade da informação e o planejamento dos processos trabalhistas, será possível alcançar a eficiência, a segurança jurídica e a transparência que o eSocial se propôs a entregar.

*Larissa Mota é advogada, especializada em Relações Trabalhistas e Sindicais pelo Centro Universitário Braz Cubas. Em2005, fundou a Exímia, BPO especializada em terceirização de folha de pagamento e gestão de benefícios.

Quer saber mais? Baixe nosso material!

Descomplicar RH

Aceitamos apenas e-mails corporativos!

Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.